A dissolução do Complexo de Édipo
(1924)
vol. XIX - Obras Completas de Sigmund
Freud.
Neste texto, Freud apresenta a definição
de Complexo de Édipo, como sua dinâmica ocorre nos meninos e nas meninas e sua
dissolução.
O Complexo de Édipo é o fenômeno central
do período sexual da primeira infância. Apesar de ser uma experiência
individual, acontece com todos os seres humanos e tem como principal herança o
superego.
Esse complexo envolve quatro conceitos
principais: a fase fálica, a ameaça de castração, a formação do superego e o
começo do período de latência (sublimação dos desejos incestuosos).
No menino, o complexo se inicia com o
novo objeto da catexia libidinal, o pênis, inaugurando a fase fálica. Neste
momento, o menino sente prazer com seu órgão genital e a manipulação torna-se
constante. Esse novo comportamento é desaprovado pelos pais, que ameaçam
castrar a criança. Essa ameaça, porém, só é levada a sério quando o menino se
depara com o órgão genital feminino. Ele, então, nota a ausência de pênis e
sofre com a ameaça de castração.
Freud relata duas experiências prévias
de castração pelas quais as crianças passam e que marcam o psiquismo, sendo
revividas na possibilidade de castração do pênis. A retirada do seio materno –
o desmame – e a exigência feita para soltarem os conteúdos do intestino –
controle esfincteriano, são os dois processos que preparam a criança para a
perda de partes valorizadas do corpo.
Além da masturbação, que oferece ao
menino uma descarga de excitação sexual pertinente ao momento vivido por ela, o
complexo de Édipo lhe oferece duas possibilidades de satisfação: ele pode se
colocar no lugar do pai e desejar ter relações com a mãe, ou pode colocar-se no
lugar da mãe e desejar ser amado pelo pai – a mãe perderia a importância nesse
caso. A criança, porém, vê as duas possibilidades de satisfação se acabarem
quando percebe que sua identificação com o pai levaria a possibilidade de
castração e sua identificação com a mãe, a castração como uma precondição.
Acontece, assim, um conflito entre o interesse narcísico e os objetos
parentais. Normalmente, o narcisismo prevalece e o ego da criança dá as costas
ao Complexo de Édipo, dando lugar as identificações.
O menino percebe então a autoridade do
pai ou dos pais, formando aí o núcleo do superego, que apresenta-se com
constantes proibições, como o incesto. Nesse momento, os desejos sexuais edípicos
são sublimados, transformando-se em impulsos de afeição, uma vez que a criança
se direciona para a sua vida social e escolar. Inicia-se o período de latência,
caracterizado pelo processo de sublimação, preservação do órgão genital e a
remoção de sua função, interrompendo o desenvolvimento sexual do menino.
Já com relação às meninas, a fase fálica
começa com o interesse pelo órgão genital e a castração aparece quando a
comparação é feita de seu órgão com o de um companheiro de outro sexo,
levando-a a sentir-se inferior e injustiçada. Diferente do menino, ela vive com
o sentimento de já ter sido castrada, pois acredita que um dia teve o pênis e
este lhe foi tirado. Também acredita na possibilidade de tê-lo de volta,
ramificando o complexo de masculinidade. Assim como com o menino, o superego na
menina começa a ser estabelecido assim que a castração é percebida. Ela passa a
ver os pais como autoridade, se submetendo às suas regras.
No complexo de Édipo, a menina
deseja assumir o lugar da mãe e ter relações com o pai, adotando uma atitude
feminina com ele. A partir da aceitação da castração como um fato consumado, a
menina procura uma compensação para sua ausência de pênis, passando então, a
desejar ter um bebê com o pai. Seu complexo termina ao ver que seus dois
desejos, possuir um pênis e ter um filho com o pai, não acontecerão. Eles se
estabilizam, então, no inconsciente da menina e são sublimados para as relações
sociais, por exemplo.
Vale ressaltar que tanto o complexo
de Édipo masculino quanto o feminino, precisa ser abolido pelo ego da criança.
Se for feita apenas uma repressão dos desejos incestuosos, estes permanecerão inconscientes
no id, podendo retornar sob formas patológicas. Segundo Freud, é esta linha
tênue que definiria o estado normal ou patológico da constituição psíquica de
um sujeito.
Setembro/2014 - Elaborado por Regina Cordeiro,
Equipe de Monitores de Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri.