1ª
Unidade – Cinco Lições de Psicanálise. (S. Freud. Vol. XI, 1910.)
Resumo da
Primeira e Segunda Lições de Psicanálise.
PRIMEIRA
LIÇÃO
Conforme prefácio
de Durval Marcos, as cinco lições de psicanálise foram pronunciadas em 1909 na
Clark University (Estados Unidos) por ocasião do vigésimo aniversário da
instituição. Elas constituem a primeira exposição sistemática da teoria
psicanalítica e tiveram grande importância para Freud, visto que devido ao
papel da sexualidade na etiologia das neuroses, suas ideias encontravam
resistências no “velho mundo”. “Na Europa, escreveu Freud, eu me sentia como
proscrito; ali me via acolhido pelos melhores como igual. A psicanálise não era
mais, portanto, uma concepção delirante, mas se tornara uma parte preciosa da
realidade.”[1]
Freud inicia seu
pronunciamento tomando como exemplo o caso Anna O. (1880-1882), paciente
tratada pelo médico vienense Joseph Breuer. Embora Freud não tenha participado
diretamente do tratamento, este foi minuciosamente descritos nos Estudos Sobre
a Histeria (1895) em colaboração com Dr. Breuer e constitui o caso princeps da
psicanálise. É a partir deste caso que se constituem as bases para a teorização
sobre os mecanismos da neurose, assim como da construção do método
psicanalítico.
Os sintomas
histéricos e suas relações com as vivências do doente.
- Sintomas de Anna
O.
·
Paralisia espástica de ambas as extremidades do
lado direito, com anestesia, que se estendia ao lado esquerdo;
·
Perturbações oculares e alteração da visão;
·
Dificuldade em manter a cabeça erguida;
·
Tosse nervosa intensa;
·
Repugnância pelos alimentos;
·
Impossibilidade de beber por diversas semanas
·
Dificuldade de expressão verbal;
·
Estados de ausência (absence), de confusão, de
delírio, de alteração da personalidade.
Breuer havia
anotado as palavras que Anna O. murmurava durante seu estado de ausência.
Pondo-a sob hipnose, repetiu estas palavras para incitá-la a fazer associações.
Desse modo, a paciente pôs-se a reproduzir as “criações psíquicas” que a dominavam
durante os estados de ausência.
Depois
de relatar as fantasias, sentia-se aliviada.
O
bem-estar, porém, durava apenas algumas horas e um novo estado de ausência
voltava no dia seguinte.
Essas
alterações psíquicas eram resultado de fantasias intensamente afetivas.
Anna
O. deu o nome de “tanking cure” (cura de conversação) ao tratamento e o
qualificou como “chimney sweeping” (limpeza de chaminé). Os autores chamaram o
método de catártico.
No decorrer do
tratamento, no entanto, verificou-se que, se na recordação da ocasião e do
motivo do aparecimento do sintoma houvesse também exteriorização afetiva, ao
lugar do alivio temporário, o sintoma desapareceria. Essa hipótese foi
levantada quando a paciente, depois de um longo período em que não conseguia
tomar líquidos, exteriorizou (sob hipnose) sua repugnância ao recordar da cena
traumática em que não seguira manifestar seu sentimento; depois disso a
paciente conseguiu tomar água.
A esse episódio
seguiram-se as seguintes hipóteses que foram verificadas em outros sintomas:
·
Os sintomas eram resíduos de experiências
emocionais (traumas psíquicos);
·
Seu caráter específico estava relacionado com a
cena traumática.
·
Nem sempre era um único acontecimento que causava o
sintoma; na maioria dos casos era um conjunto de vários traumas;
·
Surgiam a partir de poderosas emoções que não eram
descarregadas por palavras ou ações (via normal), sendo assim, subjulgadas.
(essas emoções provinham do tempo em que se dedicava ao pai doente).
Cãozinho
da dama de companhia bebendo num copo;
Alucinação
da serpente no leito do pai;
·
Essas emoções “enlatadas” encontravam duas vias
anormais de expressão:
Carga
contínua da vida psíquica
Insólitas
inervações e inibições somáticas (conversão histérica).
·
Onde existe um sintoma, existe também uma amnésia,
uma lacuna da memória, cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à
produção do sintoma.
SEGUNDA
LIÇÃO
Freud toma a
divisão da mente (estados inconscientes e estados conscientes) e a dissociação
da personalidade como ponto central da teoria. Conta que inicialmente utilizou
a hipnose, já que esta era uma exigência do método catártico que Breuer
praticava. No entanto, a constatação de que nem todas as pacientes eram passíveis
de hipnose, fizeram-no abandonar essa técnica.
Assim, procurou
agir mantendo o doente em seu estado normal de consciência e incentivando-o a
falar sobre tudo que recordava, a fim de estabelecer relações entre as cenas
patogênicas esquecidas e os sintomas. Fazia isso, pondo a mão sobre a fronte do
paciente e dizendo que a recordação exata seria a que surgisse nesse exato
momento. Freud abandonou essa técnica, que era extenuante e inadequada, contudo
tirou algumas conclusões:
·
As recordações esquecidas não se haviam perdido,
mas uma força as detinha obrigando-as a permanecer inconscientes;
·
Essa força que se opunha a revelação das
recordações, Freud chamou de resistência.
·
Essa mesma força seria a responsável por
anteriormente ter expulsado as lembranças da consciência. A esse processo,
Freud deu o nome de repressão (recalque).
·
A repressão (recalque) era motivada por uma
incompatibilidade entre uma ideia e o ego do doente.
“tratava-se
em todos os casos do aparecimento de um desejo violento mas em contraste com os
demais desejos do indivíduo e incompatível com as aspirações morais e estéticas
da própria personalidade.”
·
A aceitação do impulso desejoso incompatível ou o
prolongamento do conflito despertavam desprazer.
Freud oferece um
exemplo muito ilustrativo deste conflito. Uma paciente sua, tinha uma simpatia
particular pelo seu cunhado que se mascarava por disfarce de ternura familiar.
Quando sua irmã veio a falecer, ocorreu-lhe uma ideia: “ele agora está livre,
pode esposar-me.” Essa ideia denunciava à consciência, seu amor pelo cunhado e
foi logo recalcada pelos seus próprios sentimentos de revolta. Após isso, a
jovem adoeceu com graves sintomas histéricos.
Freud chega a uma
convicção sobre a formação dos sintomas:
·
O recalque das ideias que estão ligadas ao desejo,
não funcionava.
·
A ideia desejosa continuava a existir no
inconsciente.
·
Essa ideia disfarçada (sintoma) se lançava à
consciência.
·
Como ideia está disfarçada, fica protegida do
recalque do ego, no entanto dá lugar a um sofrimento “interminável”.
·
Para que se dê a cura, é necessário desfazer
consideráveis resistências a fim de que o material reprimido possa alcançar a
consciência. A partir disso e com orientação do médico é possível encontrar
soluções:
A
personalidade do paciente se convence de que repelira o desejo sem razão e
consente em aceitá-lo total ou parcialmente;
ou,
este mesmo desejo é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado (sublimação);
ou,
reconhece como justa a repulsa e atinge o controle consciente do desejo.
Abril/2013 -
Elaborado por Marcela Duarte e Marina Monteiroda Equipe de Monitores de
Psicanálise - PUC/SP – Campus Barueri .